Certa vez disseram que evoluímos.
Mas que fique claro:
Não somos o melhor resultado.
Não somos nem resultado
Que dirá o melhor.
Não foi a evolução,
Foi a imposição,
Foi o que deu pra ser.
Não é mais a escravidão,
É a superexploração conivente
Da criança na China
Dos haitianos no Acre
Dos bolivianos em São Paulo.
Não é mais a caça às bruxas,
É o machismo
A misoginia
A desigualdade.
Não é mais a repressão,
É a regulação
Do nosso desejo
Do nosso discurso
Do nosso cotidiano.
Não há mais povos desconhecidos,
Foram todos uniformizados
Em seus costumes
Suas crenças
Seus idiomas
Seus saberes.
Não é mais o apartheid,
É a segregação racial
A criminalização da pele
A exclusão dos tons.
Não é o domínio de tecnologias,
É a escravidão por parte delas
Por suas utilidades
E inutilidades
E obsolescência.
Não é o triunfo da ordem,
É o triunfo do medo
Da polícia
Do chefe
De Deus.
Não é a democracia,
nem o poder do povo.
É a representação
De uma média
Que não representa ninguém.
Não é a libertação,
É estar cada dia mais preso
Aos nossos desejos
Que voam livres em suas gaiolas.
Evoluímos?
27.10.2015
***
#03
Não somos um resultado. Pois quase nada nos sobrou dos índios, exterminados sem serem ouvidos. Nem das religiões caladas pelo catolicismo. Nem das ideias ignoradas pelo egoísmo. Nem da liberdade ceifada pelo pragmatismo. Se fôssemos resultado de alguma coisa, seria do desperdício. Mas nem isso somos; estamos sendo.
Simplesmente incrível Guilherme. Continua escrevendo muito bem, como sempre. Parabéns! 🙂