nem adeus, nem até logo: até ali!

Amigos,

Este blog acabou. Após quase 5 anos de postagens, percebi que repetia o ciclo do Nerd Calculista: eu me tornei outra pessoa, com outros pensamentos e interpretações da vida, e tudo o que escrevia parecia não fazer sentido para o ambiente deste blog.

Criei o Estábulo no início da faculdade pois, como todo jovem que adentra o ambiente acadêmico, estava deslumbrado com a filosofia e a rebeldia furiosa da juventude. Estava, principalmente, num momento de construção identitária em que todos os meus pensamentos se voltavam para construir um Guilherme condizente com o Guilherme que havia na minha cabeça.

O nome “Estábulo” veio disso, de “guardar o gado da mente”. Existe o casarão, onde as pessoas interagem e são felizes, e existe a casa do gado, onde os animais aguardam seu desfecho.

Acontece que esse processo de construção identitária era muito filosófico, ideológico e poético, o que acabou construindo uma vibe “séria demais” aqui, deixando os textos mais engraçadinhos desconexos com o resto.

Agora estou num outro momento. 5 anos se passaram e eu me formei na faculdade. Sou um publicitário, atuo na área e encaro a vida de uma forma muito mais despojada do que a que costumo exprimir aqui no Estábulo.

Estou menos filosófico, ainda que isto não tenha acabado – espero que nunca acabe, aliás – e dou mais espaço à leveza da vida, à literatura, ao cinema e às reflexões arbitrárias e despropositadas que elaboro.

Como criar um ambiente que abarque toda essa variedade de personas que compõem o novo Guilherme?

Apenas criando um blog que exprima o Guilherme em sua totalidade, e não um blog de temática fechada aonde eu apenas agregue meus textos.

Por isso, o Emo Tropical. Este blog sou eu. São dois adjetivos que me resumem, duas temáticas que me constituem, tudo nele expressa uma parte de mim e da minha vida.

Acompanhem!

Foi bonito alimentar todo esse gado com vocês, mas bora ouvir música triste na praia agora?

Encontro vocês lá.

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BDS – Brisas, Dostoievski e Skylab

Um imperativo que tem se levantado em minha vida é o das segundas-feiras. tudo começou – veja você – com uma reflexão do Skylab.

Durmo pouco pra ficar com sono durante o dia. Esse estado sonolento me deixa meio anestesiado e impede que eu faça mais besteiras do que normalmente eu faço; propicia uma certa insensibilidade, fundamental pra atravessar os dias. Uma noite bem dormida é um perigo: me deixa bem disposto e com a corda toda pro que der e vier. Tivesse um sono regular de 8 horas por dia, hoje eu já estaria morto.

Esse excerto é tão incrivelmente importante que eu precisei pensá-lo e repensá-lo dias a fio. E que importância teve cada um desses pensamentos!

Segunda-feira sempre foi um dia complicado. É o dia em que tudo dá errado, o dia em que eu fico em desalinho com o universo – falo besteira, ajo impensadamente, me arrependo de minhas atitudes.

Descansado do fim de semana, estou exagerado de energias para encarar a sociedade e isto é um perigo. Segundas são perigosíssimas.

Lembro de Memórias do Subsolo, do Dostoievski. Não pelo que é dito nele, precisamente, mas pelo que fica-se sugerido e faz-me pensar. Lá se divide a humanidade em dois tipos: os seres de consciência e os de ação.

Os de consciência são pessoas mais contidas, tímidas, que por pensarem muito agem pouco, calculando os riscos e desdobramentos antes de cada passo. Os de ação, por outro lado, agem e falam impulsivamente, sem pensar direito no que quer que seja.

Energia demais me torna um homem de ação. Mas eu sou um homem de consciência, em essência, desde sempre. Aí dá errado. Não possuo aquela leveza inerente das pessoas simpáticas de serem impensadamente agradáveis, espontâneamente divertidas, não tenho essa malemolência; quando agitado, enceno sempre a antipatia e amargura das pessoas socialmente inaptas.

É nos momentos impensados que faço comentários amargos, repreensivos. Falo coisas idiotas para as meninas ou sou grosseiro com os amigos. Convido aquela morena que já me dispensou pra um café e xaveco espontaneamente aquela crush do twitter. Ajo mal no trabalho ou vacilo com algum familiar.

Em suma, eu penso tanto, que quando não penso deixo a desejar. Mais fácil parece ser pra quem não costuma pensar, pois, adaptados a este estado, não se comprometem.

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Minha grande meta de aperfeiçoamento pessoal imediato é dominar as segundas. Um passo brusco, que seria um sonho mas me falta disposição, seria malhar de manhã. Quanto mais energia você gasta nos músculos, menos sobra para o cérebro e a língua. Principalmente na academia, quando você a distribui corretamente por toda a musculatura.

É impossível acordar antes das 8h para malhar, então busco através de concentração e foco manter-me em silêncio, passando em branco, na medida do possível. É claro que, sempre me sendo em excesso, fica difícil, pois sou também conversador e isto também se intensifica com energia acumulada.

Até chegar a essa conclusão, muito sofrimento tive nas noites de segunda, pois ainda exagerado de energia, não conseguia dormir, mas conseguia perceber e sofrer por todas as atrocidades que cometi ao longo do dia. Talvez as noites em que cheguei mais perto de sentir a tal ansiedade que vocês tanto falam.

Sigo lutando.

E esperando a capacidade de acordar cedo cair do céu.

***

A brisa do Memórias do Subsolo, contudo, é bem mais interessante do que isso. Vou apenas reproduzir o trecho do site Encena sobre ele:

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“Todos os homens diretos e de ação são ativos justamente por serem parvos e limitados. Como explicá-lo? Do seguinte modo: em virtude de sua limitada inteligência, tomam as causas mais próximas e secundárias pelas causas primeiras e, deste modo, se convencem mais depressa e facilmente que os demais de haver encontrado o fundamento indiscutível para a sua ação e, então, se acalmam; isto é de fato o mais importante.” (p. 29)

“… tenho culpa de ser mais inteligente que todos à minha volta. […] Finalmente, sou culpado porque, mesmo que houvesse em mim generosidade, eu teria com isso apenas mais sofrimento devido à consciência de toda a sua inutilidade.” (p. 21)

“Uma consciência muito perspicaz é uma doença, uma doença autêntica, completa.” (p. 18)

“… talvez o homem normal deva mesmo ser estúpido.” (p. 22)

“Com efeito, o resultado direto e legal da consciência é a inércia, isto é, o ato de ficar conscientemente sentado de braços cruzados”. (p. 29)

A partir desse argumento, inicia-se um discurso recorrente sobre sua superioridade intelectual, ainda que ele desconstrua tal superioridade a todo o momento. Isso porque mesmo que sua aparente exacerbada inteligência seja motivo de orgulho, também é uma forma de tortura. Pois o homem prático, de natureza idiotizada, acalma-se mais facilmente com suas ações vazias e pela substituição das suas causas primeiras por causas secundárias, sem tanta importância.

Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas. Amor-fati [amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim! – Nietzsche, Gaia Ciência, §276

****

Eu to numa fase em que todo romance tem um fim. Existem os fins sutis, que muitas vezes chamei de perfeitos, pq assim de fato parecem. Eles seguem o roteiro exato do que eu espero de uma relação, que é conhecer a pessoa, empolgar-se de leve, encontrá-la, julgamentos aqui e ali, empolgar-se ainda mais e ser forçado pelo desejo a encontrá-la mais e mais vezes. Esses encontros seguem seu próprio ritmo e possuem suas próprias melodias, cada pessoa a sua. Gosto de ver como pisamos em campos minados de forma esparramada, transitamos entre o bom e ruim buscando encontrar em nós mesmos a melhor versão. E aí tem o sexo, que é sempre bom, ainda que as vezes seja ótimo, incrível, e as vezes só bom. Existe um sentimento latente que te faz pensar, se perguntar, se por em dúvida, será que eu devo, será que eu fiz o certo, será que eu não sou um bosta? Isso estimula a pensar, a refletir, querer crescer e ser um indivíduo ativo, fazer arte, ser dramático, descarregar adrenalina no corpo até então inerte. Até que aos pouquinhos, quase sem se ver, acaba. A emoção acabo-ou… E tudo bem, pq la está a pessoa, e tudo bem, pq a queremos bem também. Mas não mais nos vemos, e aquela emoção vira um resignado carinho distante, sem dor, sem tristeza, só o afastamento comum.

Mas nem sempre é assim o fim. Existe um outro, que muitas vezes chamei de ruim, por assim parecê-lo, mas pensando bem vejo que não, e cogito rebatizá-lo de abrupto. É o romance que seguiu esse mesmo roteiro, mas iludiu a um dos dois de que o fim ainda estava mais longe do que de fato estava. E é uma sensação esquisita, o iludido se vê equivocado, se dá o direito de ser dramático, encontra em si um monte de defeitos e problemas, que sempre estiveram lá mas a aprovação do outro escondia. E daí tira-se uma tristeza resignada, uma autocomiseraçāo confortável, uma inércia dramática que deixa tudo com um tom meio cinza. Nos perguntamos onde erramos e o que faremos, pois nada mais está fazendo muito sentido, e sente-se um monte de coisas, e pensamos, mais do que nunca, mais do que sempre, são os dias em que mais pensamos em nossas vidas. Por isso não é ruim, como já achei. Nada que nos faça pensar é ruim, ainda mais se for algo inevitável, como geralmente são os fins. Pode ser desconfortável, e é bastante, saber que quando o celular vibrar não será a pessoa; quando passar onde se encontraram ela não estará lá; qnd ela quiser beijar ou um abraço não recorrerá você; mas não é ruim. Não no espectro de uma vida. É apenas abrupto. Alguns meses e o romance passa a ser só uma lembrança inócua. Para um, será eterna a sensação de desperdício do que poderia ter sido. Para o outro, como não quis que tivesse sido nada, será apenas um alento, uma lembrança para acarinhar a autoestima.

eu odeio conflitos, drs, discussões, faço de tudo, consciente e inconscientemente, pra fugir de conflitos. as vezes inclusive evito conversas necessárias. para viver comigo, as pessoas precisam entender que as vezes eu opto pelo silêncio. às vezes, apenas existir em sociedade já me parece um desafio pesado demais.

em silêncios vou me perdendo.

saí escrevendo; tava pensando.

Era segunda-feira, 31 de outubro. Meu aniversário. As ruas da Lapa estavam tomadas. Uma grande disputa política ia terminar em questão de horas: de um lado, Marcelo Freixo, representando uma esquerda meio extrema, idealista e intransingente, mas com ótimas intenções e expertise; do outro, Marcelo Crivella, o homem cujo nome se jogado no Youtube o primeiro resultado será um pedido de doação a fieis evangélicos, representando tudo que há de pior nesse país: a direita ultraconservadora, a igreja evangélica, a corrupção e a família Garotinho.

Cheguei nas ruas da Lapa junto com minha ex-namorada e um amigo antes do anoitecer. Bebemos algumas cervejas, ouvimos aqui e ali que havíamos perdido, combinamos entre si de não se deixar abater pois, afinal, era meu aniversário. Acabou que perdemos mesmo, e de lavada, pois o Rio de Janeiro nunca soube votar, e decidimos portanto beber duas catuabas nós três.

Não sei exatamente como, quando, ou por que, mas em algum momento encontramos um grupo de amigos deste meu amigo, entre eles uma menina muito divertida e um cara nojentinho com toda a pinta de gay. Eu e o bonde estávamos absolutamente fora desta realidade após as catuabas e mais algumas cervejas e uns becks e coisas semelhantes, quando subimos algumas escadas da Lapa e entramos em um bar iluminado, com mesas de sinuca e uma salinha escura com karaokê.

Fomos ao karaokê, cantamos duas ou três músicas, e então o grupo começou a se dispersar pelo salão. Eu estava completamente bêbado. Nunca me dei muito bem com nenhum álcool além de cerveja, mas aquela noite estava brilhante; tirando todas as circunstâncias políticas, como sempre neste país. Em algum momento, minha então namorada puxou-me para o banheiro, e eu fui, sem nem entender o que estava acontecendo direito. Quando dei por mim, havíamos transado e estávamos de volta no salão.

O sexo mudou algo em mim. A onda, que me havia levado lá pra cima, fez-me cair lá embaixo. A namorada foi fazer alguma coisa. Eu entrei na salinha escura do karaokê sozinho e comecei a olhar pro chão. Tudo se mexia. Uma euforia me tomava o peito, uma satisfação ardente de ebriedade me esquentava, entreguei-me à parede como a uma cama, e eis que então, sem mais nem menos prosa: chorei.

Comecei a chorar. Muito, muito, muito. Feito uma criança. Ninguém entende nada. As pessoas vão me ver e eu começo a falar coisas desconexas. “Eu não estou triste, eu juro, não sei por que estou chorando”, dizia enquanto os olhos jorravam. Lembro de coisas do passado. “A minha vida inteira fizeram bullying comigo”. Cito exemplos. “Eu tô velho agora”. Fazia 22 anos. “Mas eu tô muito feliz com a minha vida, eu juro”, reafirmava, tentando acalmar todo mundo.

A menina, a amiga do meu amigo, que me acalmou. Olha que maluquice. Estava indo trabalhar num cruzeiro por meses. Ia desembarcar em várias cidades loucas e curtir a vida de viajante. Ela contando as expectativas pra viagem me distraiu e acalmou o choro. Fomos todos comer um hambúrguer. Ganhei desconto por ser o aniversariante. Alguns fogos queimaram no céu, ninguém entendeu por quê. Disseram que era pra mim. Não era, mais acabou sendo.

Mais tarde, já em casa, minha ex-namorada conta que o menino, aquele nojentinho com pinta de gay – você está se perguntando por que eu citei essa informação? -, ele mesmo, tentou beijá-la enquanto eu me desfazia em lágrimas. Veja vocês. Que audácia. Ameacei-lhe de todas as formas possíveis pelo whatsapp. Não cheguei a ver a resposta – dormi.

No dia seguinte, acordei com a pior ressaca da minha vida. A cabeça explodia. Nenhum remédio ficava no estômago. Uma grande explosão de dor e sofrimento, jorrando desgraça por todos os meus orifícios. Fui parar no hospital.

Foi a última vez que eu passei mal. Até, bem…

Era terça-feira, 31 de outubro. Meu aniversário. Meus pais me parabenizaram logo quando acordei. Por todo lugar que passava, alguém me dava parabéns. No trabalho, uma explosão de carinho e amor. Já no corredor, Carolzinha, a menina mais gracinha de todas, veio correndo me dar um abraço. E muitos outros queridos vieram à minha sala depois. Uma tempestade infinita de amor e carinho.

Almoçamos no meu lugar favorito. O atendimento foi uma desgraça. Sempre é muito bom, mas aquele dia foi uma desgraça. Fizemos piada, tomamos duas cervejas e comi até não aguentar mais. À tarde, quando todos no escritório se juntaram para fazer a reunião diária de tarefas, a sala foi invadida por dezenas de cabeças gritando parabéns. Um bolo maravilhoso foi posto em minhas mãos, as quais eu usava para esconder minha cara vermelha feito um tomate. Não parava de entrar gente pela porta. As outras salas ouviam o barulho e vinham se juntar à galera. Que sentimento gostoso de amor. Que sentimento esquisito de vergonha!

“Discurso!”, gritaram. Fingi que não ouvi. Até conseguiria dizer uma palavra ou outra, mas como não fizeram tanta questão, não insisti também. Só queria abraçar um a um ali, dizer obrigado e entupi-los de bolo e amor. Chegando em casa, meus pais me receberam com mais um bolo e salgadinhos. Fui dormir após duas vitórias no lol e um beck merecido de skunk.

No dia seguinte, acordei com um bug generalizado por todo o corpo. A cabeça explodia. Nenhum remédio ficava no estômago. Uma grande explosão de dor e sofrimento, jorrando desgraça por todos os meus orifícios. Não fui parar no hospital, por que nem sair da cama conseguia.

Só fui acordar lá pras 17h. Mamãe me serviu um almocinho, coloquei no jogo do Real Madrid e dormi de novo até 20h. Tive que cancelar uma comemoração de aniversário. Embolou minha semana inteira.

Resolvi contar isso tudo pelo esquisito simbolismo de ter passado mal dois anos seguidos pontualmente no dia após o meu aniversário. Pode ter uma infinidade de simbolismos nisso. Ou pode ser só coincidência mesmo.

Eu sou um cara muito tranquilo. A vida passa e eu não me deixo afetar muito por ela. Envelhecer, contudo, mexe comigo. Entristece mais que qualquer coisa. As coisas passam, as pessoas também, eu consigo lidar com isso. Mas eu mesmo passar, isso é chato. O rosto que eu tive e não posso ter de novo? A juventude se esvaindo a cada dia pelos dedos? Eu sempre achei que os 15 seriam o melhor ano da minha vida. Foi mesmo. Depois foi os 18, os 21. Foi tudo bom pra caralho. E não volta nunca mais.

Isso mexe comigo mais do que qualquer coisa. Terá sido isso, a razão da explosão?

Ou uma recusa primitiva do corpo à tudo o que eu tenho ingerido? Uma recusa simbólica ao álcool, à vida, às submissões cotidianas? Terá sido meu inconsciente tentando expressar por meio da dor sua insatisfação por envelhecer assim?

Será que eu envelheci como eu queria envelhecer?

A vida é boa, mas é o bastante?

De que importa isso, afinal? Que importância eu tenho?

Não seria pior envelhecer em uma cadeia, como tantos?

Ou não seria a mesma coisa, no final das contas?

Todo esse tempo perdido. Pra mim, o ano acaba no aniversário.

Foda-se 2018. Meus 23 anos já começaram.