Preguiça de Pensar

O que distingue o medíocre do diferenciado é que o primeiro sempre tem preguiça de pensar,

enquanto o segundo, só às vezes. Não sou nem um, nem outro: transito entre os extremos na

(eterna) busca pelo ideal. Afinal, há vezes nas quais o melhor que fazemos é não pensar em

determinados assuntos para abrir espaço aos pensamentos mais propícios.

 

Diferença Sutil

Parecido é aquilo que se assemelha na aparência e se distingue na essência. No mundo, diz-se

sermos todos iguais; discordo. Nem melhor, nem pior, sou parecido.

 

Percebo que raríssimas vezes tive um relacionamento verdadeiro. Meus “três namoros” – dois tiveram uma duração tão curta que exigem aspas – foram com pessoas de longe. Pessoas que eu só via vez ou outra e, como queria ver com mais frequência, precisava pedir em namoro. Não que eu precisasse – não precisava. Mas essa vontade começava a soar pungente na minha mente. “Eu quero mais dessa pessoa, e talvez estabelecendo algum compromisso eu consiga”, pensava. Esse pensamento não podia estar mais errado.

***

Ontem assisti a um filme terrível que eu já suspeitava que seria terrível antes mesmo de vê-lo. Não sequer direi o nome por que não quero disseminar um troço ruim daqueles. Tenho essa mania – não sei se já a relatei aqui – de assistir filmes absolutamente aleatórios de países absolutamente aleatórios que não sejam os EUA. Comecei pelos franceses, depois fui pros alemães, aí dei uma passada por uns italianos, dinamarqueses e  depois passou a ser totalmente aleatório. Tive uma fase japonesa e uma Sérvia, por exemplo. Já assisti alguns Suíços muito bons, e vejo muita qualidade em alguns Espanhóis.

A última que tive – e estou tendo – é a de filmes argentinos. Já tinha assistido Medianeras e gostei muito. Na minha cabeça, o cinema atual Argentino é pautado em Medianeras – até por que os filmes que consegui mais fácil acesso foram muito parecidos com ele. Não só na questão do roteiro, mas também como fotografia, proposta, abordagem e tal.

Acredito que, por menor que seja o cinema nacional, todos os países acabam tendo uma “cara”. Essa cara muda com o passar das décadas – é óbvio que o cinema alemão da década de 60 não é o mesmo de agora -, mas por muito tempo eles permanecem parecidos. Coloca-se um filme alemão e um francês lado a lado e vê-se a diferença. Coloque-os do lado de um Sérvio do mesmo ano então, vish!

Enfim. Comentei isso para falar que ontem assisti um filme terrível argentino que nem vale a pena dizer o nome. Dou uma dica para os curiosos – tem no Netflix.

O filme era sobre um escritor de contos do jornal da cidade que tentava se lançar como grande escritor mas sempre falhava. Os contos, que tratavam sempre de amor, eram criticados por todos na equipe. Ele tentou ir pro cinema e falhou. Tentou o teatro e falhou. Tentou um livro… e falhou!

Mas, ao mesmo tempo que todas essas coisas aconteciam, ele também vivia o estereótipo de galã apaixonado com uma atriz mó gata.

E falha.

Ok, falhou na carreira e falhou no amor, mas talvez pelo menos tivesse amigos…

Não!

Ele é mó cuzão com o amigo em diversos momentos.

E a família?

Também!

Ele fica puto com o pai – ou padrasto, não saquei direito – e escreve uma peça inteira falando mal do cara depois que ele morreu, sendo que todos na família adoravam o pai e a memória dele, menos o cara.

A questão é: o filme tentou construir um personagem que fugisse ao estigma de herói, uma pessoa vulnerável e de caráter impulsivo, mas acabou construindo um mocinho mau caráter e escroto.

No fim, pra coroar a merdice, um monte de reviravolta acontece e a mulher que ele sacaneou outrora volta pra só pra fechar o filme com um final feliz.

Por que eu contei toda a história do filme se o acho uma merda? E por que sequer o assisti até o fim?, você me pergunta.

Porque nos primeiros 40 minutos de filme, que mostraram o cara jovem, no ramo das comunicações, trabalhando em um jornal como escritor de contos e cheio de sonhos pra carreira artística e literária, me senti absurdamente reconhecido naquele personagem. Quando ele achou a personagem com que namoraria, me apaixonei pela mina junto com ele. O fato de ele ser argentino ajuda – a forma de vida argentina é muito mais verossimilhante à minha, que sou brasileiro, do que a forma de vida norte americana, por exemplo.

Os anos foram passando e, pouco a pouco, o cara foi se decepcionando e me decepcionando.

Sou muito ansioso pelo futuro – parte por vontade de vive-lo, parte por medo – e esse filme foi o rascunho da história da minha vida fracassada.

Espero que durante a execução eu consiga muda-lo pra uma história menos triste. Por que, é fato, finais felizes absurdos como aquele não ocorrem na vida real.

O filme se chama El mismo amor, La misma lluvia.

***

A partir de segunda feira minha vida se torna 70% menos legal.